Ebook: Refrações das palavras freinetianas: crônicas para professores
- Tags: Freinet, Palavras de professores, Crônicas, Pedagogia do bom senso
- Year: 2023
- Publisher: Pedro & João Editores
- City: São Carlos
- Language: Portuguese
- pdf
Refrações das palavras freinetianas: Crônicas para
professores é o terceiro livro publicado em uma trilogia que
pretendeu elevar o estatuto do educador Célestin Freinet para
o de um autor imprescindível para o pensamento pedagógico
contemporâneo. Para nós, coletivos de professores que
produziram esses capítulos, Freinet não é apenas o professor
que criou técnicas pedagógicas como a aula passeio, a
imprensa na escola, o texto livre e tantas outras. É sobretudo
um pensador, um autodidata, que leu vorazmente tudo o que
estava ao seu alcance em sua época, e, com suas ideias, fincou
as bases de suas práticas pedagógicas. Segundo Jacques Bens,
que o conheceu em vida:
Simplesmente, Freinet não costumava tomar ao pé da letra o
que encontrava nos livros: gostava de pô-lo à prova na vida
cotidiana. Assim, procedendo, aliás, adotava um
comportamento absolutamente clássico, pois é duvidando das
conclusões de seus predecessores que cada inovador faz
avançar a ciência. (Freinet, 1998, p. VII).
Contrariando a atitude de um professor obediente às
produções acadêmicas, ele superou autores e conceitos para
construir uma proposta única que podemos nomear
Pedagogia Freinet. Trabalhou incansavelmente para construir
uma profunda visão crítica em relação à escola burguesa,
alimentou-se com entusiasmo dos ideais da pedagogia
socialista e participou das discussões conduzidas pelos
movimentos escolanovistas, comunistas, anarquistas e
sindicais que preconizavam uma escola emancipadora. Antes
de tudo, foi um homem engajado. Não estava alheio às
discussões progressistas de sua época. Segundo González
Monteagudo (2013, p. 14), o modelo pedagógico criado por
Freinet recria a educação em uma perspectiva sociopolítica:
Freinet concorda com os grandes postulados do ativismo
pedagógico das primeiras décadas do século 20. Porém, o que
há de específico em Freinet, em relação a outros precursores da
Escola Nova, é a perspectiva sociopolítica e ideológica marxista
com a qual analisa a evolução da sociedade, da cultura e da
educação da primeira metade do século XX, dentro de uma
crítica global ao capitalismo. Frente ao conservadorismo, ao
pretenso neutralismo apolítico e ao utopismo progressista,
Freinet se situa na esquerda sindical e política. Nessa
perspectiva, o discurso e a prática de Freinet se conectam com
as preocupações cidadãs e públicas do socialismo e do laicismo.
A luta pela inclusão social e contra as desigualdades deve ser
trabalhada também do ponto de vista pedagógico, para
promover a educação popular e fazer da escola um
instrumento ao serviço da cidadania crítica e participativa.
(Tradução livre da autora).
Com esse engajamento nas questões sociais e políticas,
ele não foi apenas uma luz para seus alunos, mas também
para professores que aderiram à Cooperativa do Ensino
Laico por ele fundada. Incentivou todos a publicarem o que
faziam, o que pensavam. Deu o exemplo. Além de artigos em
revistas, produziu livros importantes que nos ajudam a
entender o contexto teórico de sua obra. Não existe prática
sem teoria, nem teoria sem prática para um marxista.
Portanto, Freinet escreveu sobre a práxis que realizava
juntamente com um coletivo de professores.
Em Refrações das palavras freinetianas: Crônicas para
professores, sua voz se espalha mais atualizada que nunca; é
o professor contemporâneo que dialoga diretamente com o
professor que já se foi. Foram escolhidas dezenove crônicas
escritas por Freinet e publicadas no livro Pedagogia do Bom
Senso. Cada um dos autores, à luz das palavras freinetianas,
traz reflexões sobre as condições do ensino e das escolas brasileiras para dar a ver a tantos outros professores, que
porventura lerão esse material, como as palavras de Freinet
refratam-se nos dias atuais.
Originalmente, o livro publicado na França foi intitulado
Les Dits de Mathieu: une pédagogie moderne de bon sens (Os
ditos de Mateus: uma pedagogia moderna de bom senso). No
Brasil o título foi encurtado: Pedagogia do Bom Senso.
É relevante dizer que este livro, escolhido para ser
homenageado nesta publicação, foi gerado aos poucos.
Tudo começou no tempo que passou em exílio. Impedido de
estar na prática pedagógica, entre 1941 e 1943, por viver
enclausurado nos campos de concentração e em Vallouise,
usou o afastamento social para registrar as bases de sua
pedagogia. Escreveu o livro Educação do Trabalho, um
diálogo filosófico entre um casal de professores, senhor e
senhora Long, e um camponês, Mathieu. O personagem
rural, com muita sensatez e bom senso, vai ao longo do
diálogo amadurecendo as reflexões de como a escola
poderia produzir uma sociedade mais tranquila, mais justa,
mais feliz, mais humana. No prólogo do livro Pedagogia do
Bom Senso, Freinet descreveu Mathieu como o camponêspoeta-
filósofo, herói do livro Educação do Trabalho.
O apreço pelo personagem, que revela a essência da
pedagogia moderna, o fez criar uma coluna na revista
L’Éducateur (O Educador) nomeada Les dits de Mathieu,
como se pode observar na imagem 1.
Elaborou crônicas a cada dois meses, equivalente ao
período de tiragem da revista, e, tempos depois, decidiu
juntá-las em um livro. A primeira publicação ocorreu em
1967, mas aqui foi consultada a 2ª edição da tradução
brasileira dada ao público pela Martins Fontes em 1988. O
leitor encontrará, em cada capítulo, primeiramente a crônica
escolhida pelo professor, escrita por Freinet, em fonte Bell
MT e, em seguida, na fonte Candara, as refrações das
palavras freinetianas expressas nas reflexões dos autores.
Decidimos enquadrar o gênero narrativo que Freinet
produziu em Pedagogia do Bom Senso como crônica, devido
a sua origem. Os escritos foram publicados em uma coluna
de um periódico dedicada a um assunto específico, a vida
cotidiana da escola e dos escolares, sempre banhadas de
opiniões críticas ou mesmo polêmicas para a época.
Entretanto, o texto apresentado também poderia ser
considerado uma parábola. Freinet utilizou-se de narrativas
alegóricas, sempre ligadas ao mundo natural e rural, por
meio de comparação ou analogia, para transmitir uma
mensagem indireta.
É sabido por todos os freinetianos a importância que a
natureza e o meio rural têm na trajetória do pedagogo. Ele
nasceu numa aldeia, Gars, no sul da França. Viveu toda sua
infância envolvido por brincadeiras e por trabalhos que o
campo possibilitava e exigia. A cultura do meio rural foi parte
integrante do professor autodidata e erudito leitor. Em seus
escritos ele se mostrava; estavam ali sua vida pessoal e profissional e, assim, as metáforas do campo foram usadas
em suas explicações pedagógicas. Ele recorria às
experiências da vida, principalmente aquelas vivenciadas por
ele, para estabelecer analogias entre o desenvolvimento dos
seres da natureza e o desenvolvimento da aprendizagem
pelas crianças, por exemplo, a comparação entre o voo do
bando de pardais, com a correria das crianças quando o sinal
sonoro indica o término da aula; a analogia do cavalo que
não está com sede, para ressaltar a falta de motivação das
crianças para fazer exercícios desvinculados da vida. E tantas
outras que deixaremos para que você, leitor, descubra.
Adriana Pastorello Buim Arena
Valéria Aparecida Dias Lacerda de Resende
professores é o terceiro livro publicado em uma trilogia que
pretendeu elevar o estatuto do educador Célestin Freinet para
o de um autor imprescindível para o pensamento pedagógico
contemporâneo. Para nós, coletivos de professores que
produziram esses capítulos, Freinet não é apenas o professor
que criou técnicas pedagógicas como a aula passeio, a
imprensa na escola, o texto livre e tantas outras. É sobretudo
um pensador, um autodidata, que leu vorazmente tudo o que
estava ao seu alcance em sua época, e, com suas ideias, fincou
as bases de suas práticas pedagógicas. Segundo Jacques Bens,
que o conheceu em vida:
Simplesmente, Freinet não costumava tomar ao pé da letra o
que encontrava nos livros: gostava de pô-lo à prova na vida
cotidiana. Assim, procedendo, aliás, adotava um
comportamento absolutamente clássico, pois é duvidando das
conclusões de seus predecessores que cada inovador faz
avançar a ciência. (Freinet, 1998, p. VII).
Contrariando a atitude de um professor obediente às
produções acadêmicas, ele superou autores e conceitos para
construir uma proposta única que podemos nomear
Pedagogia Freinet. Trabalhou incansavelmente para construir
uma profunda visão crítica em relação à escola burguesa,
alimentou-se com entusiasmo dos ideais da pedagogia
socialista e participou das discussões conduzidas pelos
movimentos escolanovistas, comunistas, anarquistas e
sindicais que preconizavam uma escola emancipadora. Antes
de tudo, foi um homem engajado. Não estava alheio às
discussões progressistas de sua época. Segundo González
Monteagudo (2013, p. 14), o modelo pedagógico criado por
Freinet recria a educação em uma perspectiva sociopolítica:
Freinet concorda com os grandes postulados do ativismo
pedagógico das primeiras décadas do século 20. Porém, o que
há de específico em Freinet, em relação a outros precursores da
Escola Nova, é a perspectiva sociopolítica e ideológica marxista
com a qual analisa a evolução da sociedade, da cultura e da
educação da primeira metade do século XX, dentro de uma
crítica global ao capitalismo. Frente ao conservadorismo, ao
pretenso neutralismo apolítico e ao utopismo progressista,
Freinet se situa na esquerda sindical e política. Nessa
perspectiva, o discurso e a prática de Freinet se conectam com
as preocupações cidadãs e públicas do socialismo e do laicismo.
A luta pela inclusão social e contra as desigualdades deve ser
trabalhada também do ponto de vista pedagógico, para
promover a educação popular e fazer da escola um
instrumento ao serviço da cidadania crítica e participativa.
(Tradução livre da autora).
Com esse engajamento nas questões sociais e políticas,
ele não foi apenas uma luz para seus alunos, mas também
para professores que aderiram à Cooperativa do Ensino
Laico por ele fundada. Incentivou todos a publicarem o que
faziam, o que pensavam. Deu o exemplo. Além de artigos em
revistas, produziu livros importantes que nos ajudam a
entender o contexto teórico de sua obra. Não existe prática
sem teoria, nem teoria sem prática para um marxista.
Portanto, Freinet escreveu sobre a práxis que realizava
juntamente com um coletivo de professores.
Em Refrações das palavras freinetianas: Crônicas para
professores, sua voz se espalha mais atualizada que nunca; é
o professor contemporâneo que dialoga diretamente com o
professor que já se foi. Foram escolhidas dezenove crônicas
escritas por Freinet e publicadas no livro Pedagogia do Bom
Senso. Cada um dos autores, à luz das palavras freinetianas,
traz reflexões sobre as condições do ensino e das escolas brasileiras para dar a ver a tantos outros professores, que
porventura lerão esse material, como as palavras de Freinet
refratam-se nos dias atuais.
Originalmente, o livro publicado na França foi intitulado
Les Dits de Mathieu: une pédagogie moderne de bon sens (Os
ditos de Mateus: uma pedagogia moderna de bom senso). No
Brasil o título foi encurtado: Pedagogia do Bom Senso.
É relevante dizer que este livro, escolhido para ser
homenageado nesta publicação, foi gerado aos poucos.
Tudo começou no tempo que passou em exílio. Impedido de
estar na prática pedagógica, entre 1941 e 1943, por viver
enclausurado nos campos de concentração e em Vallouise,
usou o afastamento social para registrar as bases de sua
pedagogia. Escreveu o livro Educação do Trabalho, um
diálogo filosófico entre um casal de professores, senhor e
senhora Long, e um camponês, Mathieu. O personagem
rural, com muita sensatez e bom senso, vai ao longo do
diálogo amadurecendo as reflexões de como a escola
poderia produzir uma sociedade mais tranquila, mais justa,
mais feliz, mais humana. No prólogo do livro Pedagogia do
Bom Senso, Freinet descreveu Mathieu como o camponêspoeta-
filósofo, herói do livro Educação do Trabalho.
O apreço pelo personagem, que revela a essência da
pedagogia moderna, o fez criar uma coluna na revista
L’Éducateur (O Educador) nomeada Les dits de Mathieu,
como se pode observar na imagem 1.
Elaborou crônicas a cada dois meses, equivalente ao
período de tiragem da revista, e, tempos depois, decidiu
juntá-las em um livro. A primeira publicação ocorreu em
1967, mas aqui foi consultada a 2ª edição da tradução
brasileira dada ao público pela Martins Fontes em 1988. O
leitor encontrará, em cada capítulo, primeiramente a crônica
escolhida pelo professor, escrita por Freinet, em fonte Bell
MT e, em seguida, na fonte Candara, as refrações das
palavras freinetianas expressas nas reflexões dos autores.
Decidimos enquadrar o gênero narrativo que Freinet
produziu em Pedagogia do Bom Senso como crônica, devido
a sua origem. Os escritos foram publicados em uma coluna
de um periódico dedicada a um assunto específico, a vida
cotidiana da escola e dos escolares, sempre banhadas de
opiniões críticas ou mesmo polêmicas para a época.
Entretanto, o texto apresentado também poderia ser
considerado uma parábola. Freinet utilizou-se de narrativas
alegóricas, sempre ligadas ao mundo natural e rural, por
meio de comparação ou analogia, para transmitir uma
mensagem indireta.
É sabido por todos os freinetianos a importância que a
natureza e o meio rural têm na trajetória do pedagogo. Ele
nasceu numa aldeia, Gars, no sul da França. Viveu toda sua
infância envolvido por brincadeiras e por trabalhos que o
campo possibilitava e exigia. A cultura do meio rural foi parte
integrante do professor autodidata e erudito leitor. Em seus
escritos ele se mostrava; estavam ali sua vida pessoal e profissional e, assim, as metáforas do campo foram usadas
em suas explicações pedagógicas. Ele recorria às
experiências da vida, principalmente aquelas vivenciadas por
ele, para estabelecer analogias entre o desenvolvimento dos
seres da natureza e o desenvolvimento da aprendizagem
pelas crianças, por exemplo, a comparação entre o voo do
bando de pardais, com a correria das crianças quando o sinal
sonoro indica o término da aula; a analogia do cavalo que
não está com sede, para ressaltar a falta de motivação das
crianças para fazer exercícios desvinculados da vida. E tantas
outras que deixaremos para que você, leitor, descubra.
Adriana Pastorello Buim Arena
Valéria Aparecida Dias Lacerda de Resende
Download the book Refrações das palavras freinetianas: crônicas para professores for free or read online
Continue reading on any device:
Last viewed books
Related books
{related-news}
Comments (0)