Ebook: A forma e o tempo: decifrando Carlo Ginzburg
- Year: 2022
- Publisher: Alameda
- City: São Paulo
- Edition: 1
- Language: Portuguese
- pdf
A forma e o tempo - decifrando Carlo Ginzburg, de Deivy Ferreira Carneiro e Daniel Rezende Berbert Dias
O livro de Deivy e Daniel surge com uma grande pretensão. Seus autores propõem mostrar um Ginzburg menos usual; um Ginzburg para além do seu O Queijo e os Vermes e de uma leitura fácil e superficial da sua micro-história.
Para tanto, sublinham a importância de Auerbach e Warburg na constituição dos aparatos metodológicos de Ginzburg. No Brasil, o ofício de historiador tornou-se profissão nas décadas de 1980 e 1990 com a ampliação dos cursos de pós-graduação. A partir daí, o ditado popular de que cada um de nós tem um pouco de louco, médico e historiador vem perdendo sentido. Afinal, as práticas de historiador eram um ofício e, com isso, seu objeto, um verdadeiro canteiro de obras. O historiador não podia ter mais a inocência dos amadores, pois sabia que partia para a investigação com hipóteses e seus pré-conceitos. Além disso, para exercer a profissão precisava dominar técnicas, métodos de pesquisa, assim como conhecer a historiografia em geral, e de seu campo de estudos, em particular.
Caso pretendesse valer-se da micro-história, por exemplo, devia, entre outros procedimentos, saber, de preferência, que necessitava partir de fontes, semelhantes aos atuais censos por domicílios nominais, como Mapas de População (Monarquia Lusa, século XVIII), Cadastros de Grandes Propriedade (Piemonte, século XVIII), Registros Gerais de Ofícios (Turin, século XVIII). Munido desses nomes, prossegui-los nos tabelionatos, nos registros eclesiásticos etc.
Feito isso, tais nomes podiam surgir como sujeitos e, portanto, síntese de múltiplas relações sociais (das profissionais às de vizinhança). Portanto, deve conhecer tais arquivos, até para encontrar suas fontes. Conforme o procedimento, ou se preferirem, de tal receita de pudim (não gosto de bolo), podemos ter traços do fenômeno a ser explicado. Entretanto, o canteiro de obras é mais do que isso. É necessário ter erudição teórica e historiográfica para transformar as explicações em generalizações e, por fim, submeter os resultados da pesquisa aos pares. O livro de Deivy e Daniel, uma vez publicado, estará naquela última fase.
João Fragoso UFRJ
O livro de Deivy e Daniel surge com uma grande pretensão. Seus autores propõem mostrar um Ginzburg menos usual; um Ginzburg para além do seu O Queijo e os Vermes e de uma leitura fácil e superficial da sua micro-história.
Para tanto, sublinham a importância de Auerbach e Warburg na constituição dos aparatos metodológicos de Ginzburg. No Brasil, o ofício de historiador tornou-se profissão nas décadas de 1980 e 1990 com a ampliação dos cursos de pós-graduação. A partir daí, o ditado popular de que cada um de nós tem um pouco de louco, médico e historiador vem perdendo sentido. Afinal, as práticas de historiador eram um ofício e, com isso, seu objeto, um verdadeiro canteiro de obras. O historiador não podia ter mais a inocência dos amadores, pois sabia que partia para a investigação com hipóteses e seus pré-conceitos. Além disso, para exercer a profissão precisava dominar técnicas, métodos de pesquisa, assim como conhecer a historiografia em geral, e de seu campo de estudos, em particular.
Caso pretendesse valer-se da micro-história, por exemplo, devia, entre outros procedimentos, saber, de preferência, que necessitava partir de fontes, semelhantes aos atuais censos por domicílios nominais, como Mapas de População (Monarquia Lusa, século XVIII), Cadastros de Grandes Propriedade (Piemonte, século XVIII), Registros Gerais de Ofícios (Turin, século XVIII). Munido desses nomes, prossegui-los nos tabelionatos, nos registros eclesiásticos etc.
Feito isso, tais nomes podiam surgir como sujeitos e, portanto, síntese de múltiplas relações sociais (das profissionais às de vizinhança). Portanto, deve conhecer tais arquivos, até para encontrar suas fontes. Conforme o procedimento, ou se preferirem, de tal receita de pudim (não gosto de bolo), podemos ter traços do fenômeno a ser explicado. Entretanto, o canteiro de obras é mais do que isso. É necessário ter erudição teórica e historiográfica para transformar as explicações em generalizações e, por fim, submeter os resultados da pesquisa aos pares. O livro de Deivy e Daniel, uma vez publicado, estará naquela última fase.
João Fragoso UFRJ
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