Ebook: Geopolítica das cidades : velhos desafios, novos problemas
Author: Renato Balbim (ed.)
- Genre: Other Social Sciences // Politics
- Tags: Brasil, Brazil, 1. Política Urbana. 2. Desenvolvimento Urbano. 3. Cidades. 4. Políticas Públicas. 5. Acordos Internacionais. 6. Nova Tecnologia. 7. Desenvolvimento Sustentável. 8. Participação Social. I. Balbim Renato. II. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
- Year: 2016
- Publisher: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
- City: Lima
- Language: Spanish
- pdf
A atual geografia internacional de cidades pode ser assim revelada a partir da
análise do espaço urbano, visto de acordo com as formas que adquire, os processos
que enseja e seus conteúdos, todos compondo uma estrutura global de desenvolvimento desigual e combinado, como fica claro em todos os capítulos deste livro.
No lugar dessa estrutura global, revela-se a segregação socioespacial, com uma
geografia em vários aspectos perversa, com ênfase nos países periféricos, mas não
apenas. Uma geografia que revela um futuro sombrio para as cidades, caso não
sejam revistos os alicerces do modelo de urbanização mundial.
Como fica claro em cada um dos quinze capítulos escritos por diferentes
autores convidados a compor este livro, não se trata aqui apenas de discutir uma
configuração espacial de redes transnacionais, nacionais e regionais de cidades.
Antes de tudo, trata-se de analisar sob diferentes perspectivas, a partir de formações socioespaciais e lugares diversos, a construção de um espaço de poder, de um
mercado de reprodução do capital que se articula intensamente nas negociações
entre nações e corporações. Quais os interesses envolvidos na perpetuação dos
padrões de urbanização? Quais ações e iniciativas apontam para um novo futuro?
Como se articulam esses atores?
O cenário geopolítico que envolve os processos de urbanização é ao mesmo
passo inovador e conservador. A inovação é devida em grande parcela aos processos
de participação e produção social da cidade, que se multiplicam em todo o mundo e
ganham escala e importância nas redes de poder. Exemplos e análises desse processo
que ocorre em escala global estão presentes em diversos dos capítulos deste livro.
Esse movimento traz ao palco da diplomacia e dos acordos internacionais novos
atores e diferentes mecanismos de valorização de posições e de construção de tendências e acordos.
Mas o cenário geopolítico é também em grande medida conservador.
Mecanismos tradicionais da diplomacia oficial estruturam acordos segundos lógicas
dominantes dos Estados-nação e dos interesses corporativos ligados a terra urbana
como commoditie e ao comércio transnacional de serviços e tecnologias urbanas.
Mecanismos de financiamento do desenvolvimento urbano, estabelecidos por uma
ordem global vigente nos últimos quarenta anos, desde a Habitat I, se apoiam na
identificação precisa de problemas urbanos, na definição de princípios e até mesmo
direitos que viabilizariam a superação deste cenário, mas não efetivam soluções
estruturais ao não romper com modos e modelos da cidade exclusivamente capitalista, da cidade mercadoria.
Bilhões de pessoas em todo o mundo sofrem por não ter acesso a serviços e direitos básicos na cidade, esse contingente só fez aumentar ao longo das últimas décadas.
Prolegômenos: a esperança nas cidades | 13
Os mecanismos de financiamento e produção da cidade carreados por organismos
internacionais, compostos com Estados-nacionais, e assimilados nos lugares, não
lograram transformar essa realidade. A falência de tais políticas está no cerne do
nascimento de novas tensões e relações de forças. Quem sabe uma nova diplomacia,
com novos atores, a revisão da geopolítica das cidades, possa acordar novos padrões
de urbanização e de uso e preservação do meio ambiente.
Como nos revelado ao longo de todo este livro, as formas desenvolvidas até
o momento para lidar com o intenso e global processo de urbanização, para além
de solucionar os problemas apontados, têm logrado êxito em perpetuar desafios.
Novos problemas do presente nada mais são que a resultante de velhos desafios não
superados. Acesso a serviços urbanos básicos, moradia digna, respeito e valorização
dos direitos humanos na cidade, lidar com as migrações como fato social complexo,
são todos problemas de longo tempo reconhecidos, que historicamente justificam
revisões de políticas e acordos internacionais e nacionais. Porém, a história revivida
é a farsa necessária para a perpetuação de campos estruturados de poder. Assim
como se produz mais alimentos que o necessário para alimentar toda a população
mundial, também sobram recursos financeiros e técnicos para enfrentar os desafios
do acesso as condições básicas de urbanidade.
Novos problemas também surgem nas cidades. Resultantes dos velhos desafios
ou do aprofundamento de um modo de produção cada vez mais desigual e não
condizente com os recursos naturais efetivamente disponíveis segundo uma matriz
sustentável. Se avizinham assim nas cidades não apenas catástrofes naturais, mas
também revoltas sociais, ou mesmo revoluções potencializadas pela ubiquidade da
tecnologia de comunicação e informação.
Descortinar a geopolítica das cidades passa também pela compreensão de
que certos novos problemas urbanos são produzidos intencionalmente como
novidades, como modas. Quer em decorrência de avanços tecnológicos, ou de
transformações impostas aos modos de vida segundo os interesses expropriatórios
e especuladores da terra urbana, urgentes necessidades são produzidas nas cidades,
assemelhando a busca de segurança no cotidiano a um mercado de consumo de
objetos pessoais. Áreas de cidades por anos vazias, indisponibilizadas, retiradas do
mercado, são colocadas na ordem de prioridade máxima das políticas públicas.
Fundos internacionais ofertam novos padrões de moradia, urgências em busca
da felicidade em uma varanda gourmet. Projetos de acessibilidade, despoluições,
revitalização e reestruturação urbana são vendidos pelo marketing de cidade como
de interesse coletivo, como ganhos de toda a sociedade no mercado competitivo
de cidades. Produzidos de maneira pontual, essas áreas aprofundam segregações
e exclusões. A análise desse mercado global revela uma poderosa rede de privilégios,
contrariando em sua essência a cidade democrática.
análise do espaço urbano, visto de acordo com as formas que adquire, os processos
que enseja e seus conteúdos, todos compondo uma estrutura global de desenvolvimento desigual e combinado, como fica claro em todos os capítulos deste livro.
No lugar dessa estrutura global, revela-se a segregação socioespacial, com uma
geografia em vários aspectos perversa, com ênfase nos países periféricos, mas não
apenas. Uma geografia que revela um futuro sombrio para as cidades, caso não
sejam revistos os alicerces do modelo de urbanização mundial.
Como fica claro em cada um dos quinze capítulos escritos por diferentes
autores convidados a compor este livro, não se trata aqui apenas de discutir uma
configuração espacial de redes transnacionais, nacionais e regionais de cidades.
Antes de tudo, trata-se de analisar sob diferentes perspectivas, a partir de formações socioespaciais e lugares diversos, a construção de um espaço de poder, de um
mercado de reprodução do capital que se articula intensamente nas negociações
entre nações e corporações. Quais os interesses envolvidos na perpetuação dos
padrões de urbanização? Quais ações e iniciativas apontam para um novo futuro?
Como se articulam esses atores?
O cenário geopolítico que envolve os processos de urbanização é ao mesmo
passo inovador e conservador. A inovação é devida em grande parcela aos processos
de participação e produção social da cidade, que se multiplicam em todo o mundo e
ganham escala e importância nas redes de poder. Exemplos e análises desse processo
que ocorre em escala global estão presentes em diversos dos capítulos deste livro.
Esse movimento traz ao palco da diplomacia e dos acordos internacionais novos
atores e diferentes mecanismos de valorização de posições e de construção de tendências e acordos.
Mas o cenário geopolítico é também em grande medida conservador.
Mecanismos tradicionais da diplomacia oficial estruturam acordos segundos lógicas
dominantes dos Estados-nação e dos interesses corporativos ligados a terra urbana
como commoditie e ao comércio transnacional de serviços e tecnologias urbanas.
Mecanismos de financiamento do desenvolvimento urbano, estabelecidos por uma
ordem global vigente nos últimos quarenta anos, desde a Habitat I, se apoiam na
identificação precisa de problemas urbanos, na definição de princípios e até mesmo
direitos que viabilizariam a superação deste cenário, mas não efetivam soluções
estruturais ao não romper com modos e modelos da cidade exclusivamente capitalista, da cidade mercadoria.
Bilhões de pessoas em todo o mundo sofrem por não ter acesso a serviços e direitos básicos na cidade, esse contingente só fez aumentar ao longo das últimas décadas.
Prolegômenos: a esperança nas cidades | 13
Os mecanismos de financiamento e produção da cidade carreados por organismos
internacionais, compostos com Estados-nacionais, e assimilados nos lugares, não
lograram transformar essa realidade. A falência de tais políticas está no cerne do
nascimento de novas tensões e relações de forças. Quem sabe uma nova diplomacia,
com novos atores, a revisão da geopolítica das cidades, possa acordar novos padrões
de urbanização e de uso e preservação do meio ambiente.
Como nos revelado ao longo de todo este livro, as formas desenvolvidas até
o momento para lidar com o intenso e global processo de urbanização, para além
de solucionar os problemas apontados, têm logrado êxito em perpetuar desafios.
Novos problemas do presente nada mais são que a resultante de velhos desafios não
superados. Acesso a serviços urbanos básicos, moradia digna, respeito e valorização
dos direitos humanos na cidade, lidar com as migrações como fato social complexo,
são todos problemas de longo tempo reconhecidos, que historicamente justificam
revisões de políticas e acordos internacionais e nacionais. Porém, a história revivida
é a farsa necessária para a perpetuação de campos estruturados de poder. Assim
como se produz mais alimentos que o necessário para alimentar toda a população
mundial, também sobram recursos financeiros e técnicos para enfrentar os desafios
do acesso as condições básicas de urbanidade.
Novos problemas também surgem nas cidades. Resultantes dos velhos desafios
ou do aprofundamento de um modo de produção cada vez mais desigual e não
condizente com os recursos naturais efetivamente disponíveis segundo uma matriz
sustentável. Se avizinham assim nas cidades não apenas catástrofes naturais, mas
também revoltas sociais, ou mesmo revoluções potencializadas pela ubiquidade da
tecnologia de comunicação e informação.
Descortinar a geopolítica das cidades passa também pela compreensão de
que certos novos problemas urbanos são produzidos intencionalmente como
novidades, como modas. Quer em decorrência de avanços tecnológicos, ou de
transformações impostas aos modos de vida segundo os interesses expropriatórios
e especuladores da terra urbana, urgentes necessidades são produzidas nas cidades,
assemelhando a busca de segurança no cotidiano a um mercado de consumo de
objetos pessoais. Áreas de cidades por anos vazias, indisponibilizadas, retiradas do
mercado, são colocadas na ordem de prioridade máxima das políticas públicas.
Fundos internacionais ofertam novos padrões de moradia, urgências em busca
da felicidade em uma varanda gourmet. Projetos de acessibilidade, despoluições,
revitalização e reestruturação urbana são vendidos pelo marketing de cidade como
de interesse coletivo, como ganhos de toda a sociedade no mercado competitivo
de cidades. Produzidos de maneira pontual, essas áreas aprofundam segregações
e exclusões. A análise desse mercado global revela uma poderosa rede de privilégios,
contrariando em sua essência a cidade democrática.
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