Ebook: Espectro: da direita esquerda no mundo das idéias
- Tags: Politics, Philosophy, History, Writing, Essays, Nonfiction
- Year: 2012
- Publisher: Boitempo Editorial
- Language: Portuguese
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Espectro é um exercício raro de historiografia das ideias contemporâneas. Este novo livro do prestigiado britânico Perry Anderson traz ensaios, entre inéditos e originalmente publicados nos veículos London Review of Books, Dissent, New Left Review e The Nation. O autor de Considerações sobre o marxismo ocidental busca em Espectro as bases históricas, filosóficas, sociológicas e econômicas da política redefinidas pelo fim da Guerra Fria, explorando as diferentes tendências e posições de pensadores e escritores do cenário global. Em uma tomada panorâmica, que se desloca da direita esquerda no mundo das ideias, o autor define o espectro ao qual o título alude.
O trabalho comparativo de Anderson parte da premissa de que ideias raramente são valores absolutos: seu valor é sempre relativo s outras noções que estão em jogo no campo, e é apenas o conhecimento destas que proporciona uma medida de comparação. Para ele, a política não é uma atividade fechada em si, e o que conta como um conjunto de ideias relativas aos conflitos políticos de dado momento varia de acordo com a época e a região. Hoje esse conjunto se estende muito além do alcance da ciência política, em sua concepção tradicional, o que torna a exploração do campo como um todo muito mais complexa. Filosofia, economia, história, sociologia, psicologia, para não falar das ciências naturais e biológicas, e das artes, todas se cruzam em diferentes pontos no terreno da política, em sua definição clássica.
Diante do desafio, a segunda premissa do autor é a de que ideias de qualquer grau de complexidade são mais bem estudadas por meio do trabalho detalhado dos autores que as produzem, como textos inseparáveis de contextos históricos, mas que não podem ser reduzidos a estes. Sistematicamente, o volume trata de pensadores que vão desde a extrema direita até a esquerda radical, passando pelo centro moderado.
O historiador avalia as teorias de grandes mentes do Direito do século XX, incluindo Carl Schmitt, Leo Strauss, Michael Oakeshott e Friedrich von Hayek; dois escritores de levas subsequentes, Ferdinand Mount e Timothy Garton Ash; filósofos liberais mais ao centro, como John Rawls, Jürgen Habermas e Norberto Bobbio, e figuras importantes na cultura da esquerda: os historiadores Edward Thompson, Robert Brenner e Eric Hobsbawm, o classicista Sebastiano Timpanaro, o sociólogo Göran Therborn e o romancista Gabriel García Márquez.
Anderson destaca a diversidade e diferença de assuntos e disciplinas abordados desde a Guerra Fria: a direita se concentrou mais no legado dos clássicos do pensamento político, de Platão a Nietzsche, e nas tarefas imediatas de administrar o mundo; o centro investiu nas construções filosóficas normativas; já as investigações econômicas, sociais e culturais – do passado e do presente – dominam a produção da esquerda. Encontram-se entre os tópicos deste livro teorias sobre o direito, o Estado, a economia, a família, as relações internacionais, as lições da Antiguidade e do século XX, a memória e a mortalidade. “Claramente, cada uma delas seria mais bem tratada por um especialista no assunto. Mas algo ainda pode ser dito a seu respeito, por mais parcial que seja, quando elas ingressam no inventário geral da cultura política como recursos para determinada corrente de opinião”, afirma o autor no prefácio.
Trecho do livro
“Meu tratamento das diferentes figuras dessa esquerda varia em parte em função das ocasiões nas quais me foi pedido que escrevesse a seu respeito e daquelas em que escolhi fazê-lo. Dois desses textos foram escritos quando da morte de tais pessoas, Edward Thompson e Sebastiano Timpanaro, e têm um tom mais pessoal. Outros dois tratam de determinado trabalho do autor, um sobre Göran Therborn e outro sobre Gabriel García Márquez, cuja inclusão aqui, na condição de romancista mais admirado do mundo hoje, é menos estranha do que pode parecer primeira vista – que crestomatia da esquerda poderia deixá-lo de lado? Dois, finalmente, olham para seus sujeitos mais detidamente, cada um com duplo foco: Robert Brenner, em seu trabalho sobre a Guerra Civil Inglesa e a longa desaceleração, e Eric Hobsbawm, em sua tetralogia do mundo desde a Revolução Francesa até suas memórias. Este último ensaio, em virtude da maneira pela qual o autor escreveu A era dos extremos, bem como da realidade do período, é intitulado ‘A esquerda vencida’. Mas ser derrotado e submeter?se não significam a mesma coisa. Nenhum desses escritores baixou a cabeça perante os vitoriosos. Se se pretende traçar uma linha divisória entre aquilo que se tornou o centro e o que resta da esquerda, o lugar dela seria aqui.”
O trabalho comparativo de Anderson parte da premissa de que ideias raramente são valores absolutos: seu valor é sempre relativo s outras noções que estão em jogo no campo, e é apenas o conhecimento destas que proporciona uma medida de comparação. Para ele, a política não é uma atividade fechada em si, e o que conta como um conjunto de ideias relativas aos conflitos políticos de dado momento varia de acordo com a época e a região. Hoje esse conjunto se estende muito além do alcance da ciência política, em sua concepção tradicional, o que torna a exploração do campo como um todo muito mais complexa. Filosofia, economia, história, sociologia, psicologia, para não falar das ciências naturais e biológicas, e das artes, todas se cruzam em diferentes pontos no terreno da política, em sua definição clássica.
Diante do desafio, a segunda premissa do autor é a de que ideias de qualquer grau de complexidade são mais bem estudadas por meio do trabalho detalhado dos autores que as produzem, como textos inseparáveis de contextos históricos, mas que não podem ser reduzidos a estes. Sistematicamente, o volume trata de pensadores que vão desde a extrema direita até a esquerda radical, passando pelo centro moderado.
O historiador avalia as teorias de grandes mentes do Direito do século XX, incluindo Carl Schmitt, Leo Strauss, Michael Oakeshott e Friedrich von Hayek; dois escritores de levas subsequentes, Ferdinand Mount e Timothy Garton Ash; filósofos liberais mais ao centro, como John Rawls, Jürgen Habermas e Norberto Bobbio, e figuras importantes na cultura da esquerda: os historiadores Edward Thompson, Robert Brenner e Eric Hobsbawm, o classicista Sebastiano Timpanaro, o sociólogo Göran Therborn e o romancista Gabriel García Márquez.
Anderson destaca a diversidade e diferença de assuntos e disciplinas abordados desde a Guerra Fria: a direita se concentrou mais no legado dos clássicos do pensamento político, de Platão a Nietzsche, e nas tarefas imediatas de administrar o mundo; o centro investiu nas construções filosóficas normativas; já as investigações econômicas, sociais e culturais – do passado e do presente – dominam a produção da esquerda. Encontram-se entre os tópicos deste livro teorias sobre o direito, o Estado, a economia, a família, as relações internacionais, as lições da Antiguidade e do século XX, a memória e a mortalidade. “Claramente, cada uma delas seria mais bem tratada por um especialista no assunto. Mas algo ainda pode ser dito a seu respeito, por mais parcial que seja, quando elas ingressam no inventário geral da cultura política como recursos para determinada corrente de opinião”, afirma o autor no prefácio.
Trecho do livro
“Meu tratamento das diferentes figuras dessa esquerda varia em parte em função das ocasiões nas quais me foi pedido que escrevesse a seu respeito e daquelas em que escolhi fazê-lo. Dois desses textos foram escritos quando da morte de tais pessoas, Edward Thompson e Sebastiano Timpanaro, e têm um tom mais pessoal. Outros dois tratam de determinado trabalho do autor, um sobre Göran Therborn e outro sobre Gabriel García Márquez, cuja inclusão aqui, na condição de romancista mais admirado do mundo hoje, é menos estranha do que pode parecer primeira vista – que crestomatia da esquerda poderia deixá-lo de lado? Dois, finalmente, olham para seus sujeitos mais detidamente, cada um com duplo foco: Robert Brenner, em seu trabalho sobre a Guerra Civil Inglesa e a longa desaceleração, e Eric Hobsbawm, em sua tetralogia do mundo desde a Revolução Francesa até suas memórias. Este último ensaio, em virtude da maneira pela qual o autor escreveu A era dos extremos, bem como da realidade do período, é intitulado ‘A esquerda vencida’. Mas ser derrotado e submeter?se não significam a mesma coisa. Nenhum desses escritores baixou a cabeça perante os vitoriosos. Se se pretende traçar uma linha divisória entre aquilo que se tornou o centro e o que resta da esquerda, o lugar dela seria aqui.”
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