Ebook: Memórias da Cidade do Rio de Janeiro

Retrato de uma cidade na sua configuração exterior-urbanística e arquitetônica ao longo de quatro séculos de história-este livro de Vivaldo Coaracy não é porém um simples guia de monumentos antigos, um roteiro para turistas na busca de um passado imobilizado em púlpitos e naves, em arcadas e dourados, em bronzes ou pinturas esmaecidas. Ruas e praças, velhas ermidas ou igrejas resplandecentes, chafarizes ou aquedutos não são apenas provas materiais do escoar dos séculos que se sucederam de
1565 até os dias de hoje, cada um deles assinalado por esse ou aquele desconhecido mestre-de-obras, pintor ou escultor prolongado em ferro, bronze, pedra ou tijolo. Por trás do visível, do real, de severas e grossas paredes escudadas na pátina, percebe-se algo de imaterial que afeta a imaginação, que fala pelo silêncio, que conduz as vozes
do tempo. Porque é assim que o autor deste livro oferece ao leitor de hoje o passado que tentou reconstituir através das marcas visíveis do homem, isto é, tornando sensível uma atmosfera pelo estímulo à imaginação, onde até a memória participa dessa integração psicológica no passado. Nomes ainda hoje familiares ao Rio de Janeiro de 1965, aqueles que a força da tradição conseguiu manter perduráveis, começam insensivelmente
a levar-nos em direção ao passado, a integrar-nos numa realidade diferente onde a memória de uma existência anterior principia a adquirir contornos que oscilam entre o sonho e a verdade. Praça Quinze, Largo da Carioca, os Arcos, Praça da República,
Convento de Santo Antônio, Mosteiro de São Bento, Avenida Gomes Freire, Rua do Ouvidor, eis alguns nomes evocativos, eis alguns elos da corrente que se perde no fundo dos tempos, e que por sua vez despertam, por associações sucessivas outros nomes, fatos ou acontecimentos que a história guardou: Há uma fisionomia definida nesse conjunto de design ações toponímicas, um espírito que se desprende desse arrolar de denominações e se projeta na mente do leitor oscilando entre o antigamente e o presente. Há um conteúdo ao mesmo tempo histórico e social fluindo destas páginas que se vão ler, onde não podemos. isolar as ruas e as casas, as velhas igrejas e os acontecimentos cotidianos ou fora do comum, das pessoas que por elas transitavam ou nelas moravam, amavam e morriam, das pessoas que nelas buscavam a presença divina ou deles participavam na gravidade mística das procissões ou na alegria dionisíaca do carnaval e do entrudo. Para os que apenas se limitam às linhas, o livro de Vivaldo Coaracy é um excelente guia histórico, onde a erudição do autor atende às indagações mais curiosas, informando como se fora um autêntico dicionário. Para os que procuram entretanto as entrelinhas, ou o subjetivo, o espírito da história dentro de uma problemática cultural, há no livro bem mais do que se poderia julgar desse rol de vetustas paredes, de velhas construções, de antigos e desaparecidos caminhos hoje ruas. É todo um mundo social de escravos, senhores, soldados, religiosos, nobres e plebeus, burgueses e aventureiros nesse microcosmo tropical entre o mar e as florestas e montanhas. Crescendo penosamente, lutando pelo presente, impondo-se um espírito, uma fisionomia, uma alma coletiva que não lhe desmentisse o passado e lhe assegurasse a necessária firmeza para a construção de um futuro melhor. /
Grande livro calorosamente recomendado por toda a crítica. /

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE:
"A massa de informações que nos transmite nunca é tediosa: com a segurança e a seriedade do historiador, V. Cy mantém a agilidade do cronista, dono de uma prosa limpa e agradável."

HENRIQUE PONGETTI:
"Seu livro tem os múltiplos encantos da História reescrita por um extraordinário cronista."

JOSÉ LINS DO REGO:
"A cidade do Rio de Janeiro para V. Cy é uma imensa familia que ele tomou para decifrar os segredos, as grandezas e as misérias." " ... mas é preciso ler o livro de V. Cy. O que posso dizer é que desde que peguei no volume de quase seiscentas páginas não o pude largar. A leitura nos segura como verdadeiro visgo. E isto é somente sinal de grande escritor!"