Ebook: Textos sobre Ensino e Educação
Author: Karl Marx
- Genre: Education
- Tags: Sociologia educacional Marxismo
- Year: 2011
- Publisher: Navegando Publicações
- Language: Portuguese
- pdf
Marx e Engels nunca escreveram um texto - folheto, livro ou artigo - dedicado expressamente ao tema do ensino e educação. Suas referências sobre estas questões aparecem separadas ao longo de sua obra, tanto nos escritos de sua juventude como nos de sua maturidade, tanto nos Manuscritos como em O Capital. A partir de sua produção não é possível "levantar" um sistema pedagógico ou educativo completo e elaborado.
Isso não quer dizer, no entanto, que as referências sejam simples opiniões conjunturais, e, enquanto tais, perfeitamente desprezíveis do ponto de vista teórico. É certo que muitas vezes tratam-se de opiniões al filo dos acontecimentos, porém não é à toa que, no geral, as afirmações conjunturais de Marx e Engels não perdem nunca de vista a generalidade, tanto de seu pensamento quanto da circunstância histórica. Nem um nem outro foram políticos pragmáticos ou realistas, tal como esses termos são entendidos atualmente. Sua inflexível não renúncia aos princípios é proverbial e não pode ser ignorada.
Precisamente por isso, as afirmações sobre educação e ensino, como as que fizeram sobre arte e literatura, dificilmente podem nos servir para a atual polêmica em torno dos problemas do ensino, convertidas, como costuma acontecer com os argumentos no curso das polêmicas, em armas audaciosas. Mas nos servirão para um eventual debate sobre a índole e as condições para a configuração de um horizonte histórico no qual as relações de dominação tenham desaparecido.
Muitas destas opiniões e análises breves surgiram como uma crítica às situações que o capitalismo - e concretamente a manufatura - tinham produzido. Ora, esta crítica nunca foi uma reconvenção moral ou uma tentativa de "reajustar" a situação, de fazê-la mais coerente. Inclusive quando as referências são explicitamente concretas - como é o caso da intervenção na Internacional (24) ou as críticas ao sistema escolar inglês ou prussiano (31, 32, 33) -, a crítica se desprende do imediato e estabelece um marco de referência bem distinto: uma sociedade sem classes, uma sociedade na qual todos os cidadãos sejam realmente iguais e as relações de dominação brilhem por sua ausência. Pensamos que este é o ponto que dá razão de um interesse: a leitura atual destes textos.
Este procedimento não é exclusivo de Marx e Engels, e seria injusto ignorá-lo ou pretender o contrário. A primeira metade do século XIX se caracteriza pelo estabelecimento e a traumática consolidação de um modo de produção, o capitalismo, e uma formação social, burguesa, que vai não só encontrar críticas circunstanciais, mas também abundantes contestações globais. Todo o movimento utópico - socialista e anarquista, a cuja justa reivindicação estamos assistindo - se baseia na construção de modelos, alguns terminados até com detalhes excessivos, que contestam o que está sendo estabelecido. No seu seio, a educação é um aspecto prioritário e acuciante. A falta de atenção às necessidades sociais no campo da educação e ensino, que é própria dos primeiros anos do capitalismo - e que todavia arrastamos -, unida às dramáticas condições de trabalho da população operária - acentuadas no caso do trabalho infantil e feminino - colocam o ensino e a educação em primeiro plano.
Todos os socialistas utópicos, todos os anarquistas chamaram atenção sobre estes aspectos e, ainda mais, confiaram no ensino e na instrução como instrumentos de transformação. A emancipação dos indivíduos, sua libertação das condições opressoras só poderia se dar quando tal emancipação alcançasse todos os níveis, e, entre eles, o da consciência. Somente a educação, a ciência e a extensão do conhecimento, o desenvolvimento da razão, pode conseguir tal objetivo. Aparecem aqui muitos dos tópicos - os melhores - do pensamento ilustrado, que se impuseram não só por razões de autoridade ou peso acadêmico e intelectual, mas também diante da efetiva transformação das pessoas a que induziam.
Marx e Engels não foram, nem poderiam sê-lo, alheios a esta atmosfera. Seu conflito com o socialismo utópico, pôde motivar um esquecimento injusto de suas propostas igualmente utópicas. Foi necessária uma ampla revisão, uma profunda transformação das pautas do debate marxista, para que esses aspectos voltassem a ter a importância que exigem. Trata-se - e esperamos que seja perceptível para os leitores da presente antologia - de transformar radicalmente nosso meio.
Isso não quer dizer, no entanto, que as referências sejam simples opiniões conjunturais, e, enquanto tais, perfeitamente desprezíveis do ponto de vista teórico. É certo que muitas vezes tratam-se de opiniões al filo dos acontecimentos, porém não é à toa que, no geral, as afirmações conjunturais de Marx e Engels não perdem nunca de vista a generalidade, tanto de seu pensamento quanto da circunstância histórica. Nem um nem outro foram políticos pragmáticos ou realistas, tal como esses termos são entendidos atualmente. Sua inflexível não renúncia aos princípios é proverbial e não pode ser ignorada.
Precisamente por isso, as afirmações sobre educação e ensino, como as que fizeram sobre arte e literatura, dificilmente podem nos servir para a atual polêmica em torno dos problemas do ensino, convertidas, como costuma acontecer com os argumentos no curso das polêmicas, em armas audaciosas. Mas nos servirão para um eventual debate sobre a índole e as condições para a configuração de um horizonte histórico no qual as relações de dominação tenham desaparecido.
Muitas destas opiniões e análises breves surgiram como uma crítica às situações que o capitalismo - e concretamente a manufatura - tinham produzido. Ora, esta crítica nunca foi uma reconvenção moral ou uma tentativa de "reajustar" a situação, de fazê-la mais coerente. Inclusive quando as referências são explicitamente concretas - como é o caso da intervenção na Internacional (24) ou as críticas ao sistema escolar inglês ou prussiano (31, 32, 33) -, a crítica se desprende do imediato e estabelece um marco de referência bem distinto: uma sociedade sem classes, uma sociedade na qual todos os cidadãos sejam realmente iguais e as relações de dominação brilhem por sua ausência. Pensamos que este é o ponto que dá razão de um interesse: a leitura atual destes textos.
Este procedimento não é exclusivo de Marx e Engels, e seria injusto ignorá-lo ou pretender o contrário. A primeira metade do século XIX se caracteriza pelo estabelecimento e a traumática consolidação de um modo de produção, o capitalismo, e uma formação social, burguesa, que vai não só encontrar críticas circunstanciais, mas também abundantes contestações globais. Todo o movimento utópico - socialista e anarquista, a cuja justa reivindicação estamos assistindo - se baseia na construção de modelos, alguns terminados até com detalhes excessivos, que contestam o que está sendo estabelecido. No seu seio, a educação é um aspecto prioritário e acuciante. A falta de atenção às necessidades sociais no campo da educação e ensino, que é própria dos primeiros anos do capitalismo - e que todavia arrastamos -, unida às dramáticas condições de trabalho da população operária - acentuadas no caso do trabalho infantil e feminino - colocam o ensino e a educação em primeiro plano.
Todos os socialistas utópicos, todos os anarquistas chamaram atenção sobre estes aspectos e, ainda mais, confiaram no ensino e na instrução como instrumentos de transformação. A emancipação dos indivíduos, sua libertação das condições opressoras só poderia se dar quando tal emancipação alcançasse todos os níveis, e, entre eles, o da consciência. Somente a educação, a ciência e a extensão do conhecimento, o desenvolvimento da razão, pode conseguir tal objetivo. Aparecem aqui muitos dos tópicos - os melhores - do pensamento ilustrado, que se impuseram não só por razões de autoridade ou peso acadêmico e intelectual, mas também diante da efetiva transformação das pessoas a que induziam.
Marx e Engels não foram, nem poderiam sê-lo, alheios a esta atmosfera. Seu conflito com o socialismo utópico, pôde motivar um esquecimento injusto de suas propostas igualmente utópicas. Foi necessária uma ampla revisão, uma profunda transformação das pautas do debate marxista, para que esses aspectos voltassem a ter a importância que exigem. Trata-se - e esperamos que seja perceptível para os leitores da presente antologia - de transformar radicalmente nosso meio.
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